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Psicóloga CRP 05/54475, Araruama/RJ, Brazil
Atendo crianças, adolescentes e adultos baseada na Terapia Cognitiva Comportamental e Análise Corporal. Experiência clínica em Orientação profissional, Dificuldade de Aprendizagem, Déficit de Atenção e Memória, TDAH, TEA,

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A crença do não merecimento e o não receber


Imagine que você adota um cãozinho vira lata que vivia na rua, bem magrinho e cheio de pulga. Você o leva para a sua casa, alimenta com a melhor ração, dá banho, trata, leva ao veterinário e o enche de carinho. Será que esse cãozinho iria pensar “eu não mereço nada disso, meus amigos na rua passando fome e eu aqui com esse luxo todo...”. Imagine tudo isso sendo falado em um tom dramático de culpa e “humildade”. E assim ele começa a se sabotar. Não come mais a ração e pede para o dono comprar outra mais baratinha. Diz também que não precisa de tanto assim. Pra que tanto conforto? E os colegas da rua que não tem nada disso? E o que ele fez para merecer tudo de bom? Por que outros não tem acesso as mesmas coisas que ele?
É claro que um cachorro jamais agiria dessa forma. Ele apenas aceita e aproveita tudo que lhe é ofertado, sem medo nem culpa. O animal não precisa de razões para justificar ter uma vida boa ou uma vida melhor do que os outros. O simples fato de existir já é motivo o suficiente para que ele possa receber tudo que é bom.
Já nós, seres humanos, temos uma tendência de precisar encontrar motivos lógicos que justifiquem as coisas que temos ou ganhamos: só me sinto confortável em ter muito se eu trabalhar muito, só consigo me sentir bem em ter uma vida boa se eu disser que passei muitos anos estudando e trabalhando para conquistar esse resultado, se eu não me sacrifico não me sinto no direito as melhores coisas, só posso me permito cobrar um preço mais alto se eu estudar tantos anos a mais.
Quando a criança nasce, ela não questiona se merece ou não o que recebe. No entanto, quando a mente vai desenvolvendo e torna a estrutura do ego mais complexa, a mente começa a comparar, julgar e vão surgindo, em uma idade ainda muito tenra, os pensamentos de não merecimento e culpa.
Inicialmente a criança vai se comparar com os irmãos, observando se eles tem mais ou menos, se são felizes ou infelizes. Irá também começar a observar o sofrimentos dos pais. E conforme for a situação familiar, quanto maior for o sofrimento, maior a tendência de se desenvolver sentimentos de culpa em ser feliz, culpa em ter, culpa em receber.
Ao crescer um pouco mais, a criança irá também começar a ter contato com as pessoas do mundo exterior e seus sofrimentos, o que poderá alimentar ainda mais a sensação de culpa e não merecimento em ter uma vida melhor do que a média.
Outros fatores também podem contribuir para o desenvolvimento do padrão do não merecimento. Uma infância pobre onde não foi permitida que a criança tivesse necessidades básicas plenamente satisfeitas (alimentação, roupas e etc, e outras coisas menos básicas também como brinquedos, passeios, diversão) podem ser também bastante prejudiciais. De tanto ouvir: Não pode, não temos, não dá, não é pra você, não é para nós (e as vezes até ‘quem você pensa que é pra querer isso ou aquilo, pensa que é melhor que os outros, pensa que é rico?’) a criança vai internalizando cada vez mais que ela não pode e não merece acesso a certas coisas consideradas melhores na vida.
Com a mente condicionada dessa forma, a pessoa pode acabar deixando de ir em busca de coisas melhores que poderiam trazer uma vida mais confortável e abundante, pois ela simplesmente pensa que isso não é para ela.
 
                                            - André Lima
 

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