Uma
historiadora de uma universidade de Harvard, nos EUA, descobriu um
papiro, datado do século IV, com escrituras em linguagem cóptica antiga
que, mesmo quase ilegíveis, mostram uma sugestão inédita para a crença
cristã: «E Jesus disse-lhes: ‘A minha mulher…’». O pequeno pedaço de
papiro, rasgado, não mostra o resto da frase, mas poucos desconfiam da
sua autenticidade.Entre as frases legíveis do pequeno pedaço
rectangular de papiro – com dimensões de 4x8cm -, consta igualmente uma
outra, logo abaixo da principal, onde se lê: «Ela poderá ser a minha
discípula».
No pedaço, que foi visivelmente rasgado do original,
notam-se ainda outras frases soltas, como «A minha mãe deu-me vida» ou
«Maria é merecedora», esta última em referência a Maria Madalena, figura
que no Novo Testamento é retratada como uma das discípulas de Jesus
Cristo.
As conclusões, apesar de escassas, avançaram já com algumas certezas.
O
material de papiro datará do século IV. A escritura expande-se numa
mistura entre o Cóptico normal, uma língua originária do Egipto e que
utiliza caracteres gregos, com algumas palavras de um dialecto, também
cóptico, mas originário do Sul do país.
«Este fragmento sugere
que alguns antigos cristãos adoptaram a tradição de que Jesus seria
casado», disse ao New York Times, uma das três publicações – os outras
são o Boston Globe e a revista Harvard Magazine -, que foram autorizadas
a entrevistar a investigadora e ver o manuscrito, que já se encontra
protegido entre dois pedaços de vidro.
A responsável pela
descoberta, Karen King, docente na Universidade de Teologia de Harvard,
afastou a possibilidade do papiro ter sido falsificado, apesar da sua
origem ser ainda um mistério. O mesmo foi defendido por outros
especialistas, a quem King mostrou entretanto o manuscrito.
Anne
Marie Luijendijk, professor de Teologia na Universidade de Princeton,
foi uma delas. «Seria impossível de forjar», garantiu.
King
explicou que o papiro é o primeiro manuscrito encontrado que fala sobre a
hipótese de Jesus Cristo ter sido casado. «Já no século II, sabemos que
houve uma controvérsia sobre este assunto, no meio do debate que então
discutia se os cristãos podiam casar-se e ter relações sexuais»,
lembrou.
Papiro pertencia a um coleccionadorA historiadora revelou depois que o manuscrito estava na posse de um coleccionador.
King
só tomou conhecimento da sua existência quando o coleccionador – que, a
seu pedido, não identificou – lhe enviou um e-mail, no qual pedia à
investigadora, perita em papirologia e línguas cópticas, que lhe
traduzisse o pedaço de manuscrito. Examinou-o pela primeira vez em
Dezembro de 2011.
Esse proprietário teria comprado o papiro em 1997, que antes pertencera a um cidadão alemão.
SOL